domingo, 20 de junho de 2010

A mão da limpeza

O branco inventou que o negro
Quando não suja na entrada
Suja na saída
É,imagina só
Que mentira danada,è
Na verdade a mão escrava
Passava a vida limpando
O que o branco sujava
È,imagina só
O que o branco sujava
É,imagina só
O que o negro penava
Mesmo depois de abolida a escravidão
Negra é a mão de quem faz a limpeza
Lavando a roupa encardida, esfregando o chão
Negra é a mão,é a mão da pureza
Negra é a vida consumida ao pé do fogão
Negra é a mão nos preparando a mesa
Limpando as manchas do mundo com água e sabão
Negra é a mão de imaculada nobreza
Passava a vida limpando
O que o branco sujava
É,imagina só
Eta branco sujão.
Gilberto Gil.Apud Beraldo,Alda Trabalhando com poesia
São Paulo.àtica,1990 v.2,p77.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Nossa Senhora

" Minha alma engrandece ao Senhor.
E meu espírito se transporta em santa alegria em Deus meu Salvador.

Porque pôs os olhos em sua humilde escrava; por isso todas as gerações me chamarão bem-aventurada.

Grandes maravilhas obrou comigo o onipotente cujo nome é santo.

Cuja misericórdia se estende de geração em geração em todos os que o temem.

Assim ostenta o poder do seu braço, transtorna os desígnios dos soberbos.

Derruba os poderosos do seu assento e exalta os humildes.

Enche de bens os necessitados e os ricos deixa vazios.

decretou exaltar Israel seu povo, lembrando-se de sua misericórdia.

Para cumprir a promessa que fez a nossos pais, Abraão e a todos os seus descendentes.

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.

Assim como era no princípio, agora e sempre, e por todos os séculos dos séculos. Amém. "

terça-feira, 1 de junho de 2010

PROCESSO DE MISCIGENAÇÃO BRASILEIRA

A nação brasileira é, inegavelmente, composta por uma mistura de raças. Ao nos reportarmos à história do Brasil, observamos que esse processo de miscigenação teve início ainda no período da colonização, quando povos europeus brancos desembarcam em nosso território, genuinamente indígena, e, tempos depois, buscaram a mão de obra escrava, introduzindo, portanto, o terceiro elemento formador do povo brasileiro, o negro. Provavelmente, a raiz de todos os preconceitos e conceitos deturpados de “raças”, tem origem nessa visão histórica: o português branco, representante do homem civilizado, provindo, portanto, de uma raça superior; o índio, elemento sem cultura, ignorante e necessitado de “salvação” e o negro, visto como inferior tratado como mercadoria, necessário unicamente para o trabalho escravo e para servir ao branco.
O correr dos séculos, longe de se encarregar da natural miscigenação entre branco, negro e índio e da formação de um povo com suas próprias características e peculiaridades, acirrou, ao longo dos tempos, a discussão sobre a superioridade e a inferioridade das chamadas “raças” e, ainda mais, as conseqüências trágicas dessa “mistura”.
O texto “Espetáculo da Miscigenação”, escrito pela doutora em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo e atualmente professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas na mesma Universidade, Lília Moritz, nos apresenta o panorama intelectual e a visão de cientistas, historiadores, expedicionistas, naturalistas e críticos literários do Século XIX, acerca da questão racial e do futuro do Brasil. Nesse texto, o que mais nos chama a atenção é a singular visão dos intelectuais da época que bombardeavam e condenavam irremediavelmente o Brasil à decadência em todos os sentidos da palavra. Citações como as feitas pelo doutor em medicina Louis Agassiz, ao afirmar “...que qualquer um que duvide dos males da mistura de raças....venha ao Brasil. Não poderá negar a deteorização decorrente do amálgama das raças...que vai apagando rapidamente as melhores qualidades do branco, do negro e do índio, deixando um tipo indefinido, híbrido e deficiente em energia física e mental” e pelo Conde Arthur de Gobineau, que afirma sobre o povo brasileiro: “Trata-se de uma população totalmente mulata, viciada no sangue e no espírito e assustadoramente feia”, traduzia categoricamente o olhar estrangeiro deturpado e extremamente preconceituoso, que acaba por contagiar a elite brasileira, que também passa a ver a mistura de raças como um fator que condenava à degeneração não só o indivíduo como toda a coletividade. Diante dessas visões e das próprias questões históricas, acreditamos encontrar as raizes de todos os preconceitos contra os quais lutamos ao longo dos anos e que acaba perdurando, muitas vezes de forma camuflada, até os nossos dias.
Atualmente, é muito comum ouvirmos falar em direitos humanos. O Art. 3º da Constituição Brasileira, por exemplo, prevê em seu Inciso IV que um dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil é “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”, condizente, portanto, com os ideais LIBERALISTAS, que podem ser definidos como um conjunto de princípios e teorias, que apresentam como ponto principal a defesa das liberdades individuais e igualdade perante a lei, entre outros. Porém, o que se observa, mesmo diante das garantias da Lei, é uma sociedade desigual, onde poucos têm muito e muitos não têm nada. Vivemos em uma sociedade excludente, que discrimina e marginaliza pobres, deficientes, portadores de necessidades especiais, índios e, é claro, os negros. A suposta liberdade conseguida através da abolição da escravatura, em 1888, trouxe à tona um novo problema: “como inserir socialmente o negro, pobre, sem conhecimentos técnicos, analfabeto, que se deparavam com uma nova, porém não menos cruel realidade: estavam sem teto, sem trabalho, sem comida, sem direitos à escola ou meio de vida que lhes garantissem um futuro de dignidade. Desta feita, estariam, então, condenados ao esquecimento social e moral. O que é mais interessante observar é o fato de que, em nossos dias, em pleno Século XXI, muitos brasileiros ainda são extremamente preconceituosos, esquecendo-se que, hoje, em nosso país, é impossível ainda existir uma “raça pura”, pois, segundo Gilberto Freyre, na obra Casa-grande e Senzala “Todo brasileiro, mesmo alvo, de cabelo louro, traz na alma, quando não na alma e no corpo, a sombra, ou pelo menos a pinta, do indigena e/ou do negro.” Mesmo diante dessa constatação e dos avanços conseguidos pelos negros em relação à concessão de seus direitos, como por exemplo, cotas de empregos em vários ministérios, criação de programas voltados para os direitos humanos, cotas universitárias que exercem um papel estratégico na luta pela igualdade de oportunidades, e ainda o reconhecimento ao direito à titulação de propriedades de terras remanescente de quilombos, ainda são notórias as desigualdades de todas as ordens existentes entre os homens considerados brancos e os considerados negros. Como exemplo podemos citar o fato de que o homem branco ganha em médias duas vezes e meia mais do que o negro. O índice de analfabetismo é outro meio de se comprovar as dificuldades ainda enfrentadas pelo negro, 40% da população negra no Brasil é analfabeta. Outro dado alarmante diz respeito à mortalidade infantil. Dados do IBGE comprovam que até os cinco anos, crianças negras e pardas tem 67% mais chance de morrer do que as brancas. Esses índices, por si só, põem à terra o discurso oficial que garante a igualdade social, e comprova que ainda temos muito a fazer até alcançarmos de fato liberdade igualitária para todos. Não se pode falar em liberdade sem respeito aos direitos humanos. O árduo trabalho talvez já tenha começado, porém, o processo de conscientização (e só esse pode libertar de fato o negro), deve começar por nós mesmos, que precisamos reconhecer que descendemos dessa mistura de raças, que carregamos nas veias em maior ou menor grau o sangue e a hereditariedade negra da qual muito devemos nos orgulhar. O melhor de nossa cultura e folclore devemos à contribuição do povo africano. Muitos de nossos hábitos, costumes, crenças, religião, herdamos desse povo maravilhoso que teimamos, muitas vezes de forma velada, em negar ou menosprezar.
É papel fundamental da escola contribuir para que se possa romper com paradigmas históricos e culturais que viam o negro como ser inferior, e que em nada enriquecem nossa nação. Fomentar debates, discussões e seminários, desenvolver atividades que levem à reflexão sobre as origens e conseqüências do racismo pode ajudar consideravelmente as gerações futuras. Segundo a educadora e especialista em Pedagogia Social Isabel Aparecida dos Santos(2001:106) “A escola pode impulsionar uma ação cultural e política, por meio da transformação da sociedade, a partir de novas relações sociais estabelecidas entre os diferentes grupos. Para tanto se faz necessário que a escola promova uma “educação problematizadora”, promovendo situações de discussão, de diálogo, de reflexão e questionamentos, para que os alunos possam conhecer a si mesmos, sua identidade, reconhecendo o diferente, sem que isso seja justificativa para discriminar ou excluir.

BIBLIOGRAFIA:

Texto: “ Espetáculo da Miscigenação” - Lilia Moritz Schwarez

Gilberto Freyre, na obra Casa-grande e Senzala

WWW.google.com