Cruz é um instrumento de suplício, constituído por dois madeiros, um atravessado no outro, em que se amarravam ou se pregavam os condenados à morte. Esta é a definição clássica, segundo nos ensina mestre Aurélio.
Mas, por causa de um Homem que morreu há cerca de dois mil anos, a cruz passou a ter outros significados também. Passou a significar pena, aflição, infortúnio. Para os cristãos, é símbolo de redenção. Aliás, a Igreja conseguiu algo único no mundo: transformou um objeto de suplício em objeto de adoração, diante do qual todos se benzem, repetindo o próprio sinal simbólico da cruz adorada.
Estranho, isso. Estranho também que esse Homem, crucificado há tanto tempo e que continua influindo na vida de todos nós, escolhesse para nascer e morrer um lugar que divide Oriente e Ocidente, como se a Judeia fosse o ponto zero de uma enorme cruz.
Os homens criaram muitos tipos de cruz. Cruz de Ferro, Cruz de Malta, Cruz de São Cipriano, Cruz de Fogo, a Cruz de Batalha, Cruz do Báltico, Cruz Gamada e muitas outras. Mas, quando se fala dela, só se pensa em uma e no Homem que nela morreu, cercado por bandidos comuns.
Mas, convém não esquecer que a cruz, se força a abertura dos braços, braços abertos não significam, necessariamente, sofrimento. Pelo contrário. Braços abertos significam paz, desarmar de espíritos, cordialidade. E nunca um país precisou tanto de cordialidade e de paz como o nosso. Estamos vivendo uma verdadeira guerra civil e não nos apercebemos disso. Muitos milhares são os nossos mortos e maiores ainda os feridos dessa guerra inútil e insensata, se é que alguma guerra é útil e sensata.
O nosso povo precisa abrir os braços. Não para ser crucificado, pois isso já o fomos o suficiente. Mas para dar as boas vindas a um tempo, que bem poderá ser a redenção das nossas vidas.
Cruz e braços abertos têm tudo a ver. Mas podem ter significados completamente diferentes. Só depende de nós.
Questão de ordem
Retirado do Jornal Diário do Amapá.Escrito por Carlos Bezerra (em 29.09.2010)
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